terça-feira, 31 de maio de 2011

Sete gestos de amor feitos pelo Criador



A história que eu vou contar
É sobre a origem do mundo
Criou Deus os céus e a terra
Aquele que nunca erra
Seu Espírito criador
Pairava por água de louvor


Trevas cobriam o abismo
Na terra sem forma e vazia
Haja Luz proferiu Deus
Para iluminar os seus
Viu que a luz era boa
Das palavras que ressoa


Separou trevas e luz
Cada um no seu lugar
Chamou a luz de dia
Pois melhor ela alumia
De noite chamou as trevas
Tempo de muitas levas


Houve tarde e manhã
Findou-se o primeiro dia
Fez Deus, pois o firmamento
Tudo ao seu contento
Das águas que estavam unidas
Cada qual teve guarida


O firmamento chamou Céus
Havendo tarde e manhã
Findou-se o segundo dia
Numa grande alegria
Depois da organização
Apareceu a seca porção


E viu Deus que era bom
Logo foi dizendo mais
Produza na terra relva
Formando as futuras selvas
Do que era o chão bruto
Foi nascendo belo fruto


Os frutos de cada espécie
Cresciam na terra amada
E as árvores contentes
Espalhavam as sementes
Deus muito se divertia
Ao findar o terceiro dia


O bom Deus estava feliz
Com a beleza da criação
Pra origem dos cruzeiros
Antes fez os Luzeiros
Dias, anos e estações
Surgiam como canções


E Deus fez os dois Luzeiros
Altos e bem grandes
Um para o dia governar
Um para a noite cuidar
Se de manhã um aquecia
Ao tardar se escurecia


Num toque do Criador
Teve Ele uma idéia
Para ornar o céu
Cobriu como um véu
Os fortes raios brilhantes
Das estrelas cintilantes


Viu que tudo era bom
Houve tarde e manhã
Findou-se o dia quarto
Mas Deus não estava farto
Seu poder é tão tremendo
Mesmo você não crendo


Disse Deus: povoem as águas
De enxames de seres viventes
Seu poder forte como brasa
Aves voavam com belas asas
Vôo que quase toca no firmamento
Razão não havia para lamento


Fez também marinhos animais
E todos os seres que rastejam
E com alta voz anunciou
A todos abençoou
Quero ver multiplicar
Os peixes do belo mar


Era bom tudo que fez
Houve tarde e manhã
E o quinto dia findou
Mas ainda não acabou
A história da criação
Grande foi de Deus a missão


Produziu a terra seres viventes
Conforme a sua espécie
Criou os animais selváticos
Também os domésticos
Habitou, pois os répteis
Nas gramas dos solos férteis


Sendo tudo muito bom
Algo ainda faltava
E Deus cheio de confiança
Criou o homem a sua semelhança
Tendo domínio dos seres do ar
E dos que nadavam no mar


Soprou Deus o fôlego de vida
Contemplando a criação tão bela
No coração do primeiro varão
Que se chamava Adão
Para só o homem não ser
Trouxe Eva pra seu viver


Feita de sua costela
Idônea auxiliadora
Em tudo a mão de Deus abençoou
Porque de coração os criou
Viviam em harmonia
E não era fantasia


Tudo quanto Deus fizera
Constatou que era bom
Houve nova manhã e tarde
No peito o coração arde
Findou-se o sexto dia
Banhado pela alegria


Assim acabados os céus
E todo o exército da terra
Pelo que originou
O Divino descansou
E o dia sétimo abençoou
E a ele santificou   


Por Umbelina Neves



O Menino Nazireu



Hoje vamos prosear
A história de um homem
Que era bravo pra lutar
Quando estava com Jeová
Mas por causa da teimosia
A Deus desobedecia.


Dos Juízes foi o mais forte
Lutando até a morte
Pelos pecados que cometia.
Vocês sabem me dizer
De quem eu estou falando?
Pelas dicas vão lembrando...


Ele era de Zorá,
Filho de Menoá
Foi escolhido por Deus
Pra combater os filisteus
Ele tinha um segredo
Que explicava sua força
Mas se apaixonou por uma moça
Que o fez adormecer
Para o dinheiro ter


Grande foi à traição
Que o levou a perdição.
Mil homens matou de vez
Com apenas uma queixada
E traído pela amada,
Fraco e desprevenido
Foi pego pelo inimigo


Amarrado por cadeias
Seus olhos vazados foram
E a príncipes divertia
Grande era a alegria


E num último instante
Pediu para que Deus
Restituísse sua força.
Sabia que sofreria
Sua vida perderia
Mas no fundo ele sabia
Que Deus o perdoaria.


Após todas essas dicas
Não tem como esconder
Que o homem foi Sansão
O menino nazireu
Que o Anjo prometeu


Por Umbelina  Neves


Tempos de conturbação, dias de satisfação



Quando julgavam os juízes

Fome grande houve na terra

Saiu de Belém de Judá

Por caminhos a vagar

Lá para as terra de Moabe

Enquanto a seca acabe

 


Elimeleque, Noemi e seus filhos

Todos sendo efrateus 

Casado com Rute era Malom

Casado com Orfa, Quilom

Para bem longe dos seus

Segundo o conselho de Deus.

 


Com as mortes dos homens da casa

As mulheres desprotegidas

Voltaram a terra de Judá

Pois não havia ninguém pra ajudar

Noemi estando ainda crente

Revelou não estar contente

 


Com aquela situação

As moças não mais tinham obrigação

De presas ficarem ao seu lado

Pois, o matrimônio já haviam honrado

Disse: voltem pra sua guarida

E esperou logo a partida

 


Foi um momento de profunda dor

Os solos ouviram o clamor

Choravam em alta voz

Lágrimas que corriam veloz

Pois do peito palavras diziam

Eram ruídos que jaziam

 


Quis Rute ficar com a sogra

Para ser parte do seu povo!

Chegaram então a Belém

Para vida ter de novo

Toda cidade se comoveu

Pelo que aconteceu

 

 

Em meio a tanta amargura

Foram mulheres de bravura

Partiram para Moabe

Para que a fé não se acabe

Chegaram na saga da cevada

Algo divino às esperava

 

 

Lá havia um tal de Boaz

Homem de muitas posses 

Conheceu Rute a moabita  

Que em Deus sempre acredita

Não sabia que seria o resgatador

Enviado do nosso Senhor

 


Casou-se Rute com Boaz

E o menino Obede nasceu

E bem forte cresceu

Nos braços do restaurador da vida

Que mesmo em muitas lidas

Um bebê Deus concedeu

 


Obede gerou Jessé

Jessé gerou Davi

Um rude pastor de ovelhas

Que afrontado pelo gigante Golias

Derrotou o terrível opressor

Tornando-se Rei com louvor. 

 

 

 Por Umbelina Neves



Teoria da Enunciação



Ao Carrasco Estrutural


Silêncio! Não ouse interpelar, Ave Pícara¹ vai parolar:

– Quero estabelecer uma distinção, verter o plano do discurso, desconstruir a sentença e fazer um bacanal com a unidade formal!

...Ver queimar na inquisição o virginal enunciado, teu princípio gramático, o ato dogmático sem-número de realização... Que corroa na putrefação teu sacro enunciado junto ao tísico postulado... Estais extático? Não fiques sorumbático!

Estou a testificar, vestida de Sanbenito, gargalhando e achando bonito o instante da acusação, tortura e punição... Achei mui decorosa a tonsura do Coroza...

Que teu nobre santo ofício se precipite do edifício... Que nossa interlocução, seja a degeneração!

Art. s/n, § 0º Ordeno ao xadrez, tuas regras de estupidez... Que morram de frisson no réquiem do meu som... Que meu canto gregoriano seja o ranho do vaticano!

Minha Teoria goza de Geraldi, zomba do papa Saussure, subverte à Gerativa, pobre e triste opressiva... Quanto à metáfora do tabuleiro, exorcizo do mundo ligeiro... Que purgue no sanatório entre o doente necrosório! Quero chispar o teórico suíço para a masmorra do hospício!

...Tua hipocondríaca Fono-Lambia agoniza a Fago-Morfia, enquanto a bruxa medieval prepara-te um ritual...

Viva, pois tua Teoria
virou musa da utopia,
em meu caldeirão de orgia...

Art. s/d, § -0º Jaz a semântica estrutural na tumba do significado. E, no cemitério da consciência, dorme tua demência ao lado da Referência... Dedico um epitáfio a ti verme pancrácio...

Já perdi a noção de verdade com o antojo da bestialidade. Chamo de aberração seu ensaio objetivista, compro veste masoquista para a semântica realista.

Sinto-me tão triste com o obnóxio Benveniste, prefiro a facécia do chiste...  

Meus postulados são odes atordoados...

Ai como lamento teu quietismo sonolento, também a voz passiva de tua enunciativa, que canseira, baboseira, carniceira, é brincadeira?! Faço do teu antro, meu picadeiro malandro... Toco tambor de horror ao significado construído, pra bem te deixar oprimido...

Meu sensório-motor é apostema de interação, causando-te excitação... Culmina em câncer natural do teu laboratório experimental.


O meu verbete satírico gatura o teu linguístico, num intenso fogo sagrado que te deixa agonizado. Que eu seja desgosto eterno, a Satural do Inferno, a mundana do óvulo cúmulo que toca lira em teu túmulo (Sêman Hedionda, séc. XII)


E, segundo Bakhtin, eu sou o gênio ruim, a comunicação verbal de um banquete fenomenal. Sou a fundante do conflito que sempre te deixa aflito.

Sou dialogia, eterna polifonia...

A bacante do dialógico em teu rosnar monológico... Àquela que o discurso inverteu o percurso!

São as minhas saudações, nênias de congratulações. Espero que não deixe irritado o bandolim do teu fado...  





_________________
1 Ave Pícara: Poder Supremo da Gozação Acadêmico-Institucional. Musa Excelentíssima incumbida do Sacro-Pacto da Galhofa, Escárnio e Contravenção.  A Sacra em seu pronunciamento zomba, perante o Tribunal, dos desmandos do Carrasco Estrutural


Por Flor dos Anjos 


METÁFORA da Merenda Escolar

              

               Bem falou ontem – 1982 – Gilberto Gil com muita propriedade, que poeta que é poeta pra falar de sua meta quer dizer o inatingível, isso para muitos é pouco visível!

            Foi tanto flagra e supervisão, um mês de investigação para o resultado divulgar aquilo que só em pensar é náusea pra vomitar! Comida estragada, de qualquer jeito armazenada, em vez de ser mui bem conservada para a fome ser saciada.  

            “Uma boa alimentação, coma frutas e legumes”, diz o recado no mural enquanto na prática tratam discentes de forma animal! Algumas Escolas Modelos de Ensino Integral passarelam feshionweekikamente sobre holofotes nos canais de Telealienação, sem falar nas tão-tão confiáveis publicações periódicas querendo que o povo VEJA notícias tendenciosas, não esquecendo a Fantástica hegemonia do Império Astro-Global, enquanto o alunado anseia por provisão, qualidade de refeição, EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO e EDUCAÇÃO!  Mas o Horário Nobre do Progresso Escolar é ver barata cirandar, enquanto nas cozinhas públicas os gatos adoram sapatear, a panela é design de decorar, o macarrão gostoso-bichado e o biscoito mofado!

            Isso é prato cheio para descer lenha na bestialização que tem enchido a gorda pança-porca dos Doutos da VIP-Administração! Estes têm lata cheia de parola enquanto a todos pensam que enrola, sobrando o pútrido alimento que qualquer um achará nojento, engulha até cabra e jumento!

           Certamente os Chefões da cainçada também devem partilhar em suas casas as mesmas carnes moídas expostas ao sol e sem refrigeração, por isso, minha Boca-de-lata só consegue pedir aos bons glutões: LATA! Pois se já saborearam esta tão boa Ração, estão de conchavo com o instinto CÃO!

            Êta boa Educação, palmas para a santa estatística e por tão magnânima logística!

          Fora! Lata infeta da mancomunação, do descaso e da corrupção! Cuspa fora sua meta cega, a disputa burra! Façam Banquete para quem precisa de Educação, respeitem o direito do cidadão, não intoxiquem o presente-futuro da Nação!

            Como concluiu Gil...

                                   Deixe a sua meta fora da disputa
                                   Meta dentro e fora, lata absoluta
                                   Deixe-a simplesmente metáfora.



Por Flor dos Anjos



O Fruto da Laranjeira



Ao Mestre Lusitano José  Pires 


São os cabelos dele...

São os fios brancos entrelaçados aos pretos, tingindo-os de uma cor grisalha, suave, penteada. Abaixo vai escorrendo a aromática barba de um mesmo tom dos fios, aquela que me causa arrepios... Nunca quis apenas idealizar, cheguei a tocar, recrear e beijar... E vejo-me acariciando-a, roçando a face, deslizando os dedos, sugando em desespero os cheiros e desejos, a fim de tomar o cálice-vinho dos teus tempos remotos, nunca ignotos.

Ele levanta enfaticamente os braços e fico a querer envolvê-lo em ardentes abraços, lambendo os favos, mordendo faceiro seu corpo por inteiro...

São dedos delicados de unhas semitransparentes, picantes, contentes, sem anel, banha-me com teu mel, cobre-me como um vel. Fico a pensar em seus braços, sua sedutora tatuagem fito-a como miragem. Sua aparente fraqueza, mística beleza da madura idade. Seu pulso envolto de uma pequena pulseira de corda fina, rústica, singela. São miçangas africanas e eu as teci, Sou sua baiana. 

Seu falar lusitano provoca um delírio profano, e causa muito mal esse gozo de Portugal. Tua nau cruza meu oceano Brasílico, minhas ondas escumam os bravios desejos dos mares recém encontrados. E a chama que há em mim é contida devido a todo aquele recinto formal, mas o calor interno ruge como um animal! E não me envergonho por te querer, eu canto o amor do nosso prazer...

Sua boca breve, pequena, de rico conhecimento, ecoa pelo auditório que aplaude as sábias palavras. Naquela conferência perdi toda a consciência me contentando em observar, mas sempre a relembrar do teu galho viril enramado em meu feitio...

Fiquei em sua mesa a fingir que concordo com tudo, que estou atenta a todos os seus falares, mas pelejo com o silêncio, fujo e sou livre em te dizer muitas coisas, mesmo que em meu pensamento. Toco explicitamente em ti, nos cantos todos, em todas as partes... Meu todo em tua parte, minhas partes em teu todo, nossos corpos a parte entre as folhagens do todo...

Não posso revelar que a rutácea estou a explorar, que em tuas águas estou a navegar! Minha bússola em teu astrolábio, ancorastes em meu lábio!

Meu desbravador, do teu terreno sou Colonizador, pego em tua euforia, causo-te agonia, canto as tuas formas, digo quais são as normas. Tu és Terra Minha, Fruto Meu, não tenho censura alguma... Que meus mapas nos una.


           De tua Laranjeira frondosa, não te consulto, roubo e chupo teu fruto, na hora que bem desejo.




Por Flor dos Anjos




Ninho Celestial




              Bem vinda meu ao meu corpo amor, nobre senhora é a hora da minha travessura, pois tua formosura vem trazer alegria ao raiar do belo dia. No café celestial sou teu mero serviçal, um banquete especial quero aprontar pra ti, oh como é bom vê-la sorrir...

            Teu sorriso angelical desperta o silêncio matinal, enquanto meu ser vagabundo quer povoar teu mundo...

            Também te tento meu bem, te atormento desde as claras horas e tu não te demoras... Arrumo a mesa, enfeito com cereja, lavo a louça, troco a roupa, trago as delícias, oferto as primícias, não esqueço as carícias...

            Aceita a fruta! Chupa a uva! Cai tua luva, rasgo a blusa, ponho o pão em tua mão, passo o queijo com tanto desejo, também neste ensejo ardente é teu beijo...

            Sou teu escravo, lambo teus favos em meio aos laços dos nossos abraços... Sou teu amante, estou festejante e o sol muito bilha em nossa Casa da Ilha...

            Boa tarde meu amor, trago-te o almoço, naquele alvoroço entre os lençóis, teus cabelos de caracóis me enredam para ti, não consigo dormir, só quero curtir, não mais despertar e teu cheiro aproveitar... Quero me cobrir em teu diadema, doce e serena, fazer-te um poema, delirar num cinema tão bem improvisado, o melhor é o inesperado! Unges-me com teu vinho, te trato com carinho por perfumar meu ninho...

            Olhas-me agradecida, quase que envaidecida por saber o quanto te desejo desde o primeiro beijo.

           Tua asa de Grande-Mulher desfaz meus compromissos, deles me faço omisso somente para contigo estar, ambicionar e amar...

            ...Rir, sentir e possuir...

            Mas, é escuro meu bem são tardes as horas, comemos amoras no silêncio do vento, enquanto ligeiro passa o tempo... Preparo o jantar, tu ficas a me olhar, me empenho para o melhor, pois somos uma carne só, organizo todo o lar pra poder te agradar, carinhar teu ventre, te fazer contente...

            Mas, o tempo passou Amor, não há como lutar agora, findou-se de vez a hora, verteu-se o momento em cinzas de lamento... o pó da maquiagem refaz tua miragem, e como está empoeirado o nosso seio sagrado! Resta apenas relembrar aquela que me fez adormecer e quase de gozo morrer...

            Ai que dor tão funda Amor que corrói todo meu viver, ora vem me proteger... Esse meu luto eterno que atravessou o inverno não pode ser socorrido... Sem ti sou indefeso passarinho, como refaço meu caminho? Oh, não podes vir, nem tampouco me ouvir? Não podes voltar? Tenho que me conformar...

            Chorarei a falta do carinho,
            Chorarei alto e sozinho,
            Chorarei triste e baixinho, embalado em nosso ninho...


Por  Umbelina Neves


Novas aventuras do mestre Siri




Episódio de hoje: No divã do Siri


            Como alguns já sabem o mestre Siri foi educado sob pesados treinamentos armados, não consegue abandonar os duros exercícios militares, a disciplina, a pontualidade, só ainda não sei se o chicote pia, se em gemidos assobia, quando a coitada da arrumadeira, erra na hora da faxina a posição das botinas.

Um homem esbelto, anjo endireitado, comprometido com o serviço nacional, educador de qualidade. Até a lousinha foi espancada outro dia, mas era apenas para explicação. Quase comprei um tamborzinho ou pandeirinho para poupar as cipoadas na coitada. Ele deve ser fã de percussão! Relatou o TOC TOC oco da porta, provocou risos nas batidas na maciça parede, advertiu que propagação de som não há no vácuo, deixou claro sua vocação em saber manusear as apostilas alheias. Sim!!!! Nunca abri e fechei tanto a boca, gesticulando, aprendendo o triângulo vocálico. Inda bem que duros são os dentes, e rígidos, pois se chapa falsificada fosse a da vovozinha, a aula não aguentaria, mole mole ficaria. Aflito fico apenas em lembrar a canseira de dizer “PIPA, PÊPA, PÉPA, PAPA, PÓPO, PÔPA, PUPA” uma porrada de vezes. Um saco! Diria, droga três vezes, chatice três vezes, gota serena mil vezes. 

            Mas o legal não é ver o mestre Siri nas aulas, o super é conhecê-lo nos bastidores, na preparação das aulas. Lágrimas correm ao contemplar a mesinha de madeira, proibida de ser molestada, pobre lasca dura e virgem, apenas ele pode tocá-la, foi o primeiro a desvirginá-la. Jamais tentem profaná-la. Se mochila esqueceres em cima da mesma e no momento fores abordado, quem sabe a guilhotina o aguarde ou se bondoso for o coração do mestre, talvez tu e a bendita lançados sejam pela catapulta. Ainda nela encontramos um porta-lápis de vidrinho, três canetinhas, o estilete novo novo, a borrachinha, clips, marcador, tudo para empenhar-se na construção das tarefinhas. Toquinho e o “Mundo das crianças” basearam-se em sua doutrina, nos seus ensinamentos, na brandura de seu coração, da pureza da face do mestre sério e dedicado. Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo e com cinco ou seis retas eu faço o Siri no castelo. Ele é nossa Faber Castell, canetinha bege preciosa, é aquele tom pastel excitante.

Bem no meio de sua salinha, em cima da mesinha mora um bloquinho de folhinhas branquinhas, quadradinhas, bilhetinhos de um ser organizado. Olhos fitos na tela do computador, dias de cabelos penteados, outros desgrenhados. Mas, o importante é a educação. Um mestre dos magos comprido de Caverna do Dragão! Um CSI versão turista paraibinha, estudioso das cadeias fonéticas. O porta lápis é louco para navegar pelas outras parte da dura mesa, clama dia-a-dia outra posição, mas foi cravada sua âncora, fincado os pés nas terras do gélido compensado. No centro um retangular borrãozinho, informações desencontradas, email de alguém, cálculos malucos, letrinhas engraçadas, também ouço a voz triste deste clamar alforria. Só rabisquinhos, mas é uma beleza o lixeirinho. Sempre as camisas manga curta, sapatos e cintos marrons, leves detalhes listrados ou quadriculados. Face jovem de madura experiência. Ser imprevisível, ao mesmo tempo enigmático, mistérios muito bem disfarçados, segredos escondidos, mas sagaz na curiosidade.

            É a segunda casa do nobre Siri, sua latinha encantada, seu esconderijo, refúgio de todas as horas. Longas reuniões e debates com o grupinho de estudos, longas horas relembrando as saudades, as conquistas, são muitas as pesquisas. Na cadeira encosta-se por algumas horas, é a peça do mobiliário talvez mais querida, seu divã, sua guarida. Ali desenvolve suas atividades, sua “Terra de palmeiras onde canta o sabiá”, depois que sai é pra se torar, findou-se o descansar!  Um xerife da educação. Em hora imprópria, não ousem aborrecê-lo, pois certamente o Siri reage e quando achares que ele não age te elimina num só gatilho! Mas por trás da seriedade, no mais profundo do coração, existe um pobre pastor que uma musa busca para devoção! Alguém decida, amante querida, que almeje sua boca beijar e quem sabe um pouco de sua fúria amenizar!


Por Gregória Castro 

Todos querem o Siri na lata



Conta-se que em uma universidade, que não era de um reino tão tão distante assim, foi iniciado o período acadêmico dos alunos graduandos do curso de Letras. As expectativas eram imensas. Será que tal período seria doce como alguns textos literários, ou nefastos como algumas teorias linguísticas? Quem mais agrado render à literatura concorde com a afirmação, mas para não frustrar nem incitar contendas com os linguistas, meus caros, invertam as ideias e todos partilhem do real propósito deste desabafo.

            Alguns mestres humildes entendem e procuram jogar sementes para os campos brancos do conhecimento, não pretendem reter para si as colheitas. Esperam, debatem, sonham, apaixona-se, desapaixonam-se, todavia, colocam-se como mediadores, propagadores, orientadores do saber. Compreendem que a busca sempre será incessante e mui longo será o caminho. Outros sargentos marcham pesado, pisam os próprios calçados, quase obrigam a batida de continência, resta apenas exigir reverência de seu alunado. Estamos no quartel, no Laboratório Experimental da Língua Portuguesa! Incrível como é prazeroso convocar o recruta medroso a responder o questionário no quadro, as cômicas chamadas orais, voltemos então às lições das tabuadas. Queremos o Modelo Tradicional!

São jovens, recém doutores, nobres professores que apenas tentam resgatar a perdida Identidade Educacional. Abaixo o questionamento, são os donos da verdade! Se morrerem os pais, ou acometidos estamos de enfermidades, a sala não é lugar para lamúria, não é interessante seus padecimentos. Antes o suicídio que a falha pela entrega dos trabalhos exigidos. Aperte a bexiga, deixe os lábios ressequidos, não pisque os olhos para que o mestre não seja interrompido. O mijo deve submeter-se à disciplina. Não permita que vibre o celular, se não quer se trumbicar, o melhor é desligar!

Sinto falta apenas da correção da palmatória, do milhinho no recanto da sala, que triste não haver mais o gorrinho do burrinho! Hoje a Educação está uma palhaçada! 

Palmas para a humilhação e ao desprezo à classe popular, aluno é para se modernizar. Dizia a tola professora a delirar: “Não brincam as crianças pobres, de ruas esburacadas e de esgotos a céu aberto”. Mas, como culpar o pobre professor, o lutador, a mente brilhante do progresso, que envia textos e exige trabalhos apenas via internet? Isso é que é um educador!

            Se cresse em reencarnação, diria que o dito Cirineu, lá dos tempos do sacro Jesus Cristo, baixou no mundo dos viventes, logo-logo chegou a Doutor, de fardamento quadriculado, fez sérios os tons pasteis, e mesmo ausente o coturno, marchava no horário diurno. Incansável pesquisador, adorável ditador, que achava lindo o que dizia, exigente da nossa alegria. Mesmo que não concordasse, queria que afirmativamente nossas cabeças balançassem.

            Certo dia depois dos produtivos conteúdos estudados, exigiu com a doçura de cão voraz um tenebroso e cruel trabalho. Antes de comentar o desafio, revivamos juntos, unidos, a aula que explicou como utilizarmos um programa necessário ao campo fonético. A seguir mostraremos os passos:

1º Abra isso!
2º Feche aquilo!
3º Abra de novo isso...
4º Feche novamente...
5º Escreva isso!
6º Salve como...
7º Ainda não está salvo, então abra...
8º Agora feche!
9º Agora abra!
10º É muito simples!
11º É tão simples!
12º Como é simples!
13º É assim que se pronuncia!                     

            É um horror essa tirania!

            Mas o momento de êxtase da explicação é afirmar a simplicidade do programa, afinal, um professor apaixonado entende que o problema não é a complicação do programa ou a rapidez da explicação, mas ser apaixonado, mostrar a beleza que está por trás das turbulências enigmáticas. Uma releitura viva do filme: “Meu Mestre, Minha Vida”. Ele chegou para dar um salto na Educação, mas cuidado com o TrupiCÃO! Oportunidade única tê-lo conosco. 

Se cobrados fossem os ingressos pelas entradas e saídas no MSN utilizado, o dito professor ainda mais enriqueceria, quanta grana está perdendo, mas o legal é saber que estamos sofrendo. Um ser cristão, que baseou-se nas sagradas escrituras e na beleza do sermão monte: “Os humilhados serão exaltados”, também noutra passagem, “[...] o choro pode durar uma noite, mas alegria vem no amanhecer”.

            Como esquecer estas aulas maravilhosas! Agora voltemos a tarefinha de casa. Tão simples como a explicação do programa, o desafio seria apenas fichar dois textinhos, bem simples, bem teóricos, hieróglifos chatonísticos, maquiavélicos, fonéticos, todavia, estamos alargando nossos horizontes do conhecimento. Certamente se Orkut o dito cujo tivesse, em peso a sala o adicionaria e cheio de depoimentos sua página lotaria. Tão modernos são alguns que o confessionário foi virtual, nem trabalho tiveram de ficar online, as pauladas offline também surtem efeito.

            Não queremos perdê-lo nunca, queremos privilegiados ser e outras maravilhosas disciplinas com ele pagar. Seus foras são como cajadadas de um pobre pastor disciplinador, afinal, quem ama corrige, mesmo que dura seja a vara. Como Davi, tocamos várias vezes à lira, para expulsar e de vez exorcizar os maus espíritos, mas o que fazer se dedicados são ao saber? Não se trata de empregados privados, já foram efetivados. Enquanto uns curtem a folia de um Matusalém, outros não ousam ir além, recolhem-se ao escritório, pois seu estado é probatório!

Ao mestre Siri, um Feliz dia do professor! Esse causo com emoção, conto em lágrimas de saudação, por tua incansável dedicação em resgatar as memórias ditatoriais, esquecidas nos Arquivos Históricos Nacionais. Como perto está do término da disciplina, fechemo-lo na latinha, e entreguemos a outra turminha. Pois egoístas não queremos ser, e mesmo sem merecer, tivemos o prazer do Siri na Lata conhecer.  


Por Gregória Castro 


Pura agitação, o papo de Asterião



            Todos têm afirmado o que querem sobre mim. Cansei da forma ridícula que sou tratado, só por ter corpo de homem, mas não sou nenhum lobisomem. Com minha cabeça de touro, nunca consegui ser um estouro, mas saibam que por trás do animalesco, já superei o desejo grotesco! Outros mais desaforados chamam-me de criatura selvagem, mas não tô nem ai pra essa sacanagem! Pra esse povo linguaruro, prefiro ficar mudo!

Realmente devorei alguns atenienses, mas isto foi coisa de momento, isso não me causa sofrimento. Atrevido mesmo foi Teseu que voluntariamente quis matar-me, então comecei a gostar dessa parada de ser monstro. O que quebrou o clima entre eu e Teseu, foi quando descobri que Ariadne, filha de Minos,  por ele se apaixonou, isso me detonou. Ainda por cima, bobeou geral a donzela, cortou de vez qualquer possibilidade de azaração e o ajudou entregando-lhe uma bola de linha de costura para que ele pudesse sair do meu labirinto. Tudo bem que não foi uma morte tão gloriosa quanto à de Aquiles, mas pelo menos não passei pela dor, que sentiu o bravo Heitor! Posso dizer que meu instrumento foi de categoria, Teseu me findou com uma espada mágica que Ariadne havia lhe dado e liderou os outros atenienses para fora do labirinto. Meu irmão, que parada sinistra, até hoje acham que morreu o assunto e que virei presunto.

            Fiquei super contrariado, me irritei na moral, depois esfriei a cuca, não dei bola pros otário, resolvi inverter meu itinerário. Mudei de vez minha perspectiva selvagem, quis aprender a filosofar e no curso de Letras entrar. Fiz o vestibular, não fui chamado pro primeiro período, mas na segunda listinha, vi que o Minotauro Asterião, teria nova ocupação. Passei no vestibular, não importa que colocação, hoje ser federal ainda é uma conquista fenomenal!  Vou ter diplomar superior, tornar-me Professor! Agora virei brother da Linguística, dos experimentos, virei bolsista de PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica). Só não fiquei tão animado, porque do trabalho, tive que pedir demissão, pois essa parada de não poder ter vínculo empregatício, pra mim foi muito difícil. Mas para que minha bolsa não fosse cortada, tive que topar essa quebrada! Dizem que a bolsa vai ter aumento, que esse valor é coisa de momento. Esse negócio de só estudar, não sei se vai dar pra me sustentar! Tenho que economizar! Vou me inscrever no RU (Restaurante Universitário), senão de fome, acabo baixando pro HU (Hospital Universitário)! Vou tomar outra providência, lutar pela Residência!

            É melhor deixar esse papo pra lá, senão mais cedo eu vou pirar, sei que Zeus vai me ajudar, e essa peleja vai acabar! Falando em coisa boa e invertendo do assunto a canoa, das disciplinas que estudei, Teoria Linguística foi a que mais gostei. Tive aulas com o companheiro Leitão, esse virou amigo do coração! Massa demais a primeira tarefa de Aquisição da Linguagem, fui levando na malandragem. Vi nascer a Psicolingüística, pra mim foi melhor que a Estatística, mas a Psicolinguística Experimental, essa sim foi baixo astral! Das técnicas experimentais, essa parada de off-line e on-line não saquei direito, eu sei que muito bem o professor explicou, mas foi a parada que não entrou! Na Teoria da Complexidade Derivacional, cuja sigla é DTC, nessa quase tive um AVC, mas fui tocando devagarzinho, até para os estudos bolei um grupinho!

Ei galera, irado foi estudar a Teoria do Garden Path, A Teoria do Labirinto. Essa tirei de letra, meus colegas doideira não prestaram atenção, e saíram na contramão. No meu caso, saí na vantagem, lance de Labirinto eu já sou é Doutor, dei um baile até no Professor! Fui deixando a coisa fluir em cada explicação, cada vez que eu lia uma frase, era uma viagem.

É difícil a graduação, mas é grande a emoção, principalmente meu rapaz, quando se é apaixonado pelo que faz. Academicamente hoje sou conhecido, viver só naquele labirinto era um suplício. Sem falar nos gritos do povo que se perdia, muitos não sabem, mas com isso eu sofria. Agora estou realizado, rumo a ser graduado! Quem sabe consiga uma monitoria, ah, vai ser grande a alegria! E pra fechar o curso com chave de ouro, colar grau vai ser um estouro, e se minha turma me escolher como orador, vou me sentir mais rico que Doutor!

Agora preciso ir embora, chega, está na hora, pois de longe avisto a professora Bora Bora! Não posso perder tempo de bobera, corto logo qualquer asneira, se perco tempo na Praça da Alegria, serei mestre no mundo da Fantasia!


Por Gregória Castro 

Aula de Matemática




... Eu estou de bem com um grande mal... Num insano viver de descompassos, desde o dia em que teus passos cruzaram efervescentes e a porta rapidamente aguçou minhas fantasias...

         Tu não me ensinas nada Professor, és o senhor do meu desinteresse. Mesmo que hoje eu não quisesse tuas aulas, minha chama juvenil arrebata teu quadril, meus compassos em teus esquadros, seus embaraços entre meus laços. Sou a Imperatriz de tua agonizante matriz, corra da minha raiz, ande na contramão, componha-me uma canção, pegue a minha cartilha que está em tua mobilha, faça-me de equação, reze minha oração, esqueça os velhos terços, se envolva em meus adereços! Seja meu elo transversal, ângulo lateral, vértice histérico de meu mundo cibernético, número dionisíaco de aroma afrodisíaco, o laibirinto atuante de meu passeio agonizante... Cuidado, não se enrosque, há um lobo mal no bosque...

           Sou teu Elmo incandescente, das delícias sou o presente. Gire na providência, rompa a circunferência, brinquemos de potência nos vales da indecência... 

         Teu olhar matemático transpira enigmático, seus sentimentos sobre meus conhecimentos. Contigo estou sempre reprovada, nunca evoluo, recuo, regresso, não presto...

Catetos,
conceitos,
constantes,
amantes,
hipotenusas,
blusas,
pertences,
docentes,
ardentes...


       Temperatura arterial, gozo fenomenal, ato transcendente, tua discente, conjunto binário, corpos unitário...

         Exploras todo o quadro enquanto ignoras minha geometria, sondo tua obscura extasia, tua tensão precoce, teu nervosismo, minha triangulação causa-te excitação. Explica agonizado, agonizante, meu amante, teu ângulo paralelo luta comigo em duelo.

           Suas constantes correm radiantes pelo solo escolar, queres ensinar, ser o exemplar, replicar, falar, mas eu tão distante desaponto tuas teorias, vãs filosofias, meus instintos te porfia, fujo, penso porcarias, enquanto tão dedicado estais, suspiro de tantos ais...

            Preenches a lousa e eu fito as roupas, os dentes contentes, o pescoço tenso e rosado pelo calor, teu corpo pede frescor por tanto empenho e agitação, pura afobação!

            No birô ligas o monitor, arrasta a cadeira, inquieta a prateleira, sou a confusão de tua distração...
          
          Menino Mestre, Infante criança, tuas exigências não te levam a lugar nenhum, sempre te questionamos, surramos e amamos. Teu currículo acadêmico late enquanto ardes, encobre teu costume boêmio, não venha com bestiais equações, pois quero notas e canções, o badalo da lira para aplacar tua ira, anarquias em teu terno militar plantam flores em teu pomar, espinhos pra te torturar, ataduras pra cicatrizar.

         Ninguém quer entender, as horas querem correr, desesperadas querem findar este teu eterno falar, esse martírio de profunda sapiência é uma indecência ao meu malandro ouvido, quero apenas ver-te despido...

      Falei meu bem, direi o mal, praguejarei, mas te ouvirei apenas por te desejar, pela possibilidade do prazer de tua docente ser. Eu sim te ensinarei, ministrarei o B – A – BÁ, a conjugar o verbo amar, aplicarei minha ementa, enquanto meu corpo te tenta, usarei letra bastão, te rogo um travessão! Escreverei bem ativa em tuas curvas cursivas...

       Tua matriz será minha atriz, tua equação em poder de minhas mãos. Pobre da trigonometria, farei dela nossa euforia... Uma volta completa quero dar em tua circunferência, mil beijos de indecência, ser o compasso dos nossos amassos, a potência e o somar das noites do teu delirar...

       ..Não irás descansar!


Por Flor dos Anjos 

Elementos químicos



Ao filho do carbono e do amoníaco



“Nem tudo o que está no ambiente ao nosso redor é percebido por nossos sentidos”, já dizia o pútrido manual deixado por teu bioquímico ancestral... 

Mas, meu ar nefasto de micro partículas te capta a olho nu. Também, teu telúrico gosto é apreciado por meu maligno paladar, meu olfato se movimenta como cascavel peçonhenta e meu veneno esquenta o tato que te acalenta.

“Mas o ar possui massa”...

Mas à massa foi dado o nome de matéria, porque tal conceito elementar não procuras observar? Estude-me ingrato, entre em meu laboratório, faça dele seu refeitório, desnude-se do jaleco grotesco e brindemos o vinho picaresco.  

Gênio pesquisador considere que somos porções limitadas, somos corpos de opróbrio pairando entre papaverina, morfina e narcotina... Passamos por transformações e não me acostumo com rejeições.

Mas, minha energia não se aguenta quer ser parte atuante do processo, não se resume à mísera matéria, atenta está em tua massa, conhece bem tua Raça! Não a ignore, ela é facilmente por ti percebida. Seja submisso, não se faças omisso, pois precisas dela para existir, não tens como fugir!

Minha química arrasa tua mecânica,
Minha roda trepa em tua dinâmica,
Meu eixo frui em teu cabresto...

Meu veículo de últimas reservas danou-se veloz em tua selva, tragando a daninha erva, mordendo as calorias, maquinando as boas orgias...

Desequilibramos a equação, queremos produzir a Luminosa, carregar bioluminiscência nos mazombos bosques da indecência...

Ai da Cinética, faremos intenso movimento... Por entre dores e lamentos parimos um calor gerado por freios descontrolados... Mui bem histérica quero ver tua térmica fazer muita pressão num orbe de excitação...

Até a ínfima molécula desquita-se da substância pura, quer ver nossa travessura namorar o Hidrogênio, noivar o Oxigênio, casar o vil Carbono.   

Quero o gozo periódico, transgredir tua tabela...
Ser Ode de destruição dos elementos de transição...
Sou o esterco do ébrio que morreu de tanto tédio...  

Sou a Hedionda da contravenção!

Quero a demolição do lídio, que morra teu primo Berílio... Enquanto calcula o Sódio, faço sexo com o Ódio...

Encho-me de potássio pra domar teu magnésio...
Enlouqueço Césio, Frâncio e Rubídio...
Coito Ítrio, Titânio e Ovídio...
Sou a Medéia do dístico elegíaco, possuída por Tântalo e Mércúrio...
Gerei Lantânio, Netúnio e Urânio,
Enquanto comia Érbio, Túlio, Itérbio, Lutécio, Nobélio e Férmio...

Venho de outras Eras, do organismo das moneras, já fui Ouro, Prata e Bronze até render-me ao teu domínio, não passo de vômito do alumínio...

Sou Ferro perecível do Caos cruel e terrível. 


Por Flor dos Anjos