Todos têm afirmado o que querem sobre mim. Cansei da forma ridícula que sou tratado, só por ter corpo de homem, mas não sou nenhum lobisomem. Com minha cabeça de touro, nunca consegui ser um estouro, mas saibam que por trás do animalesco, já superei o desejo grotesco! Outros mais desaforados chamam-me de criatura selvagem, mas não tô nem ai pra essa sacanagem! Pra esse povo linguaruro, prefiro ficar mudo!
Realmente devorei alguns atenienses, mas isto foi coisa de momento, isso não me causa sofrimento. Atrevido mesmo foi Teseu que voluntariamente quis matar-me, então comecei a gostar dessa parada de ser monstro. O que quebrou o clima entre eu e Teseu, foi quando descobri que Ariadne, filha de Minos, por ele se apaixonou, isso me detonou. Ainda por cima, bobeou geral a donzela, cortou de vez qualquer possibilidade de azaração e o ajudou entregando-lhe uma bola de linha de costura para que ele pudesse sair do meu labirinto. Tudo bem que não foi uma morte tão gloriosa quanto à de Aquiles, mas pelo menos não passei pela dor, que sentiu o bravo Heitor! Posso dizer que meu instrumento foi de categoria, Teseu me findou com uma espada mágica que Ariadne havia lhe dado e liderou os outros atenienses para fora do labirinto. Meu irmão, que parada sinistra, até hoje acham que morreu o assunto e que virei presunto.
Fiquei super contrariado, me irritei na moral, depois esfriei a cuca, não dei bola pros otário, resolvi inverter meu itinerário. Mudei de vez minha perspectiva selvagem, quis aprender a filosofar e no curso de Letras entrar. Fiz o vestibular, não fui chamado pro primeiro período, mas na segunda listinha, vi que o Minotauro Asterião, teria nova ocupação. Passei no vestibular, não importa que colocação, hoje ser federal ainda é uma conquista fenomenal! Vou ter diplomar superior, tornar-me Professor! Agora virei brother da Linguística, dos experimentos, virei bolsista de PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica). Só não fiquei tão animado, porque do trabalho, tive que pedir demissão, pois essa parada de não poder ter vínculo empregatício, pra mim foi muito difícil. Mas para que minha bolsa não fosse cortada, tive que topar essa quebrada! Dizem que a bolsa vai ter aumento, que esse valor é coisa de momento. Esse negócio de só estudar, não sei se vai dar pra me sustentar! Tenho que economizar! Vou me inscrever no RU (Restaurante Universitário), senão de fome, acabo baixando pro HU (Hospital Universitário)! Vou tomar outra providência, lutar pela Residência!
É melhor deixar esse papo pra lá, senão mais cedo eu vou pirar, sei que Zeus vai me ajudar, e essa peleja vai acabar! Falando em coisa boa e invertendo do assunto a canoa, das disciplinas que estudei, Teoria Linguística foi a que mais gostei. Tive aulas com o companheiro Leitão, esse virou amigo do coração! Massa demais a primeira tarefa de Aquisição da Linguagem, fui levando na malandragem. Vi nascer a Psicolingüística, pra mim foi melhor que a Estatística, mas a Psicolinguística Experimental, essa sim foi baixo astral! Das técnicas experimentais, essa parada de off-line e on-line não saquei direito, eu sei que muito bem o professor explicou, mas foi a parada que não entrou! Na Teoria da Complexidade Derivacional, cuja sigla é DTC, nessa quase tive um AVC, mas fui tocando devagarzinho, até para os estudos bolei um grupinho!
Ei galera, irado foi estudar a Teoria do Garden Path, A Teoria do Labirinto. Essa tirei de letra, meus colegas doideira não prestaram atenção, e saíram na contramão. No meu caso, saí na vantagem, lance de Labirinto eu já sou é Doutor, dei um baile até no Professor! Fui deixando a coisa fluir em cada explicação, cada vez que eu lia uma frase, era uma viagem.
É difícil a graduação, mas é grande a emoção, principalmente meu rapaz, quando se é apaixonado pelo que faz. Academicamente hoje sou conhecido, viver só naquele labirinto era um suplício. Sem falar nos gritos do povo que se perdia, muitos não sabem, mas com isso eu sofria. Agora estou realizado, rumo a ser graduado! Quem sabe consiga uma monitoria, ah, vai ser grande a alegria! E pra fechar o curso com chave de ouro, colar grau vai ser um estouro, e se minha turma me escolher como orador, vou me sentir mais rico que Doutor!
Agora preciso ir embora, chega, está na hora, pois de longe avisto a professora Bora Bora! Não posso perder tempo de bobera, corto logo qualquer asneira, se perco tempo na Praça da Alegria, serei mestre no mundo da Fantasia!
Por Gregória Castro
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