Ao Carrasco Estrutural
Silêncio! Não ouse interpelar, Ave Pícara¹ vai parolar:
– Quero estabelecer uma distinção, verter o plano do discurso, desconstruir a sentença e fazer um bacanal com a unidade formal!
...Ver queimar na inquisição o virginal enunciado, teu princípio gramático, o ato dogmático sem-número de realização... Que corroa na putrefação teu sacro enunciado junto ao tísico postulado... Estais extático? Não fiques sorumbático!
Estou a testificar, vestida de Sanbenito, gargalhando e achando bonito o instante da acusação, tortura e punição... Achei mui decorosa a tonsura do Coroza...
Que teu nobre santo ofício se precipite do edifício... Que nossa interlocução, seja a degeneração!
Art. s/n, § 0º Ordeno ao xadrez, tuas regras de estupidez... Que morram de frisson no réquiem do meu som... Que meu canto gregoriano seja o ranho do vaticano!
Minha Teoria goza de Geraldi, zomba do papa Saussure, subverte à Gerativa, pobre e triste opressiva... Quanto à metáfora do tabuleiro, exorcizo do mundo ligeiro... Que purgue no sanatório entre o doente necrosório! Quero chispar o teórico suíço para a masmorra do hospício!
...Tua hipocondríaca Fono-Lambia agoniza a Fago-Morfia, enquanto a bruxa medieval prepara-te um ritual...
Viva, pois tua Teoria
virou musa da utopia,
em meu caldeirão de orgia...
Art. s/d, § -0º Jaz a semântica estrutural na tumba do significado. E, no cemitério da consciência, dorme tua demência ao lado da Referência... Dedico um epitáfio a ti verme pancrácio...
Já perdi a noção de verdade com o antojo da bestialidade. Chamo de aberração seu ensaio objetivista, compro veste masoquista para a semântica realista.
Sinto-me tão triste com o obnóxio Benveniste, prefiro a facécia do chiste...
Meus postulados são odes atordoados...
Ai como lamento teu quietismo sonolento, também a voz passiva de tua enunciativa, que canseira, baboseira, carniceira, é brincadeira?! Faço do teu antro, meu picadeiro malandro... Toco tambor de horror ao significado construído, pra bem te deixar oprimido...
Meu sensório-motor é apostema de interação, causando-te excitação... Culmina em câncer natural do teu laboratório experimental.
O meu verbete satírico gatura o teu linguístico, num intenso fogo sagrado que te deixa agonizado. Que eu seja desgosto eterno, a Satural do Inferno, a mundana do óvulo cúmulo que toca lira em teu túmulo (Sêman Hedionda, séc. XII)
E, segundo Bakhtin, eu sou o gênio ruim, a comunicação verbal de um banquete fenomenal. Sou a fundante do conflito que sempre te deixa aflito.
Sou dialogia, eterna polifonia...
A bacante do dialógico em teu rosnar monológico... Àquela que o discurso inverteu o percurso!
São as minhas saudações, nênias de congratulações. Espero que não deixe irritado o bandolim do teu fado...
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1 Ave Pícara: Poder Supremo da Gozação Acadêmico-Institucional. Musa Excelentíssima incumbida do Sacro-Pacto da Galhofa, Escárnio e Contravenção. A Sacra em seu pronunciamento zomba, perante o Tribunal, dos desmandos do Carrasco Estrutural
Por Flor dos Anjos
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