Ao Mestre Lusitano José Pires
São os cabelos dele...
São os fios brancos entrelaçados aos pretos, tingindo-os de uma cor grisalha, suave, penteada. Abaixo vai escorrendo a aromática barba de um mesmo tom dos fios, aquela que me causa arrepios... Nunca quis apenas idealizar, cheguei a tocar, recrear e beijar... E vejo-me acariciando-a, roçando a face, deslizando os dedos, sugando em desespero os cheiros e desejos, a fim de tomar o cálice-vinho dos teus tempos remotos, nunca ignotos.
Ele levanta enfaticamente os braços e fico a querer envolvê-lo em ardentes abraços, lambendo os favos, mordendo faceiro seu corpo por inteiro...
São dedos delicados de unhas semitransparentes, picantes, contentes, sem anel, banha-me com teu mel, cobre-me como um vel. Fico a pensar em seus braços, sua sedutora tatuagem fito-a como miragem. Sua aparente fraqueza, mística beleza da madura idade. Seu pulso envolto de uma pequena pulseira de corda fina, rústica, singela. São miçangas africanas e eu as teci, Sou sua baiana.
Seu falar lusitano provoca um delírio profano, e causa muito mal esse gozo de Portugal. Tua nau cruza meu oceano Brasílico, minhas ondas escumam os bravios desejos dos mares recém encontrados. E a chama que há em mim é contida devido a todo aquele recinto formal, mas o calor interno ruge como um animal! E não me envergonho por te querer, eu canto o amor do nosso prazer...
Sua boca breve, pequena, de rico conhecimento, ecoa pelo auditório que aplaude as sábias palavras. Naquela conferência perdi toda a consciência me contentando em observar, mas sempre a relembrar do teu galho viril enramado em meu feitio...
Fiquei em sua mesa a fingir que concordo com tudo, que estou atenta a todos os seus falares, mas pelejo com o silêncio, fujo e sou livre em te dizer muitas coisas, mesmo que em meu pensamento. Toco explicitamente em ti, nos cantos todos, em todas as partes... Meu todo em tua parte, minhas partes em teu todo, nossos corpos a parte entre as folhagens do todo...
Não posso revelar que a rutácea estou a explorar, que em tuas águas estou a navegar! Minha bússola em teu astrolábio, ancorastes em meu lábio!
Meu desbravador, do teu terreno sou Colonizador, pego em tua euforia, causo-te agonia, canto as tuas formas, digo quais são as normas. Tu és Terra Minha, Fruto Meu, não tenho censura alguma... Que meus mapas nos una.
De tua Laranjeira frondosa, não te consulto, roubo e chupo teu fruto, na hora que bem desejo.
Por Flor dos Anjos
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