terça-feira, 31 de maio de 2011

Sete gestos de amor feitos pelo Criador



A história que eu vou contar
É sobre a origem do mundo
Criou Deus os céus e a terra
Aquele que nunca erra
Seu Espírito criador
Pairava por água de louvor


Trevas cobriam o abismo
Na terra sem forma e vazia
Haja Luz proferiu Deus
Para iluminar os seus
Viu que a luz era boa
Das palavras que ressoa


Separou trevas e luz
Cada um no seu lugar
Chamou a luz de dia
Pois melhor ela alumia
De noite chamou as trevas
Tempo de muitas levas


Houve tarde e manhã
Findou-se o primeiro dia
Fez Deus, pois o firmamento
Tudo ao seu contento
Das águas que estavam unidas
Cada qual teve guarida


O firmamento chamou Céus
Havendo tarde e manhã
Findou-se o segundo dia
Numa grande alegria
Depois da organização
Apareceu a seca porção


E viu Deus que era bom
Logo foi dizendo mais
Produza na terra relva
Formando as futuras selvas
Do que era o chão bruto
Foi nascendo belo fruto


Os frutos de cada espécie
Cresciam na terra amada
E as árvores contentes
Espalhavam as sementes
Deus muito se divertia
Ao findar o terceiro dia


O bom Deus estava feliz
Com a beleza da criação
Pra origem dos cruzeiros
Antes fez os Luzeiros
Dias, anos e estações
Surgiam como canções


E Deus fez os dois Luzeiros
Altos e bem grandes
Um para o dia governar
Um para a noite cuidar
Se de manhã um aquecia
Ao tardar se escurecia


Num toque do Criador
Teve Ele uma idéia
Para ornar o céu
Cobriu como um véu
Os fortes raios brilhantes
Das estrelas cintilantes


Viu que tudo era bom
Houve tarde e manhã
Findou-se o dia quarto
Mas Deus não estava farto
Seu poder é tão tremendo
Mesmo você não crendo


Disse Deus: povoem as águas
De enxames de seres viventes
Seu poder forte como brasa
Aves voavam com belas asas
Vôo que quase toca no firmamento
Razão não havia para lamento


Fez também marinhos animais
E todos os seres que rastejam
E com alta voz anunciou
A todos abençoou
Quero ver multiplicar
Os peixes do belo mar


Era bom tudo que fez
Houve tarde e manhã
E o quinto dia findou
Mas ainda não acabou
A história da criação
Grande foi de Deus a missão


Produziu a terra seres viventes
Conforme a sua espécie
Criou os animais selváticos
Também os domésticos
Habitou, pois os répteis
Nas gramas dos solos férteis


Sendo tudo muito bom
Algo ainda faltava
E Deus cheio de confiança
Criou o homem a sua semelhança
Tendo domínio dos seres do ar
E dos que nadavam no mar


Soprou Deus o fôlego de vida
Contemplando a criação tão bela
No coração do primeiro varão
Que se chamava Adão
Para só o homem não ser
Trouxe Eva pra seu viver


Feita de sua costela
Idônea auxiliadora
Em tudo a mão de Deus abençoou
Porque de coração os criou
Viviam em harmonia
E não era fantasia


Tudo quanto Deus fizera
Constatou que era bom
Houve nova manhã e tarde
No peito o coração arde
Findou-se o sexto dia
Banhado pela alegria


Assim acabados os céus
E todo o exército da terra
Pelo que originou
O Divino descansou
E o dia sétimo abençoou
E a ele santificou   


Por Umbelina Neves



O Menino Nazireu



Hoje vamos prosear
A história de um homem
Que era bravo pra lutar
Quando estava com Jeová
Mas por causa da teimosia
A Deus desobedecia.


Dos Juízes foi o mais forte
Lutando até a morte
Pelos pecados que cometia.
Vocês sabem me dizer
De quem eu estou falando?
Pelas dicas vão lembrando...


Ele era de Zorá,
Filho de Menoá
Foi escolhido por Deus
Pra combater os filisteus
Ele tinha um segredo
Que explicava sua força
Mas se apaixonou por uma moça
Que o fez adormecer
Para o dinheiro ter


Grande foi à traição
Que o levou a perdição.
Mil homens matou de vez
Com apenas uma queixada
E traído pela amada,
Fraco e desprevenido
Foi pego pelo inimigo


Amarrado por cadeias
Seus olhos vazados foram
E a príncipes divertia
Grande era a alegria


E num último instante
Pediu para que Deus
Restituísse sua força.
Sabia que sofreria
Sua vida perderia
Mas no fundo ele sabia
Que Deus o perdoaria.


Após todas essas dicas
Não tem como esconder
Que o homem foi Sansão
O menino nazireu
Que o Anjo prometeu


Por Umbelina  Neves


Tempos de conturbação, dias de satisfação



Quando julgavam os juízes

Fome grande houve na terra

Saiu de Belém de Judá

Por caminhos a vagar

Lá para as terra de Moabe

Enquanto a seca acabe

 


Elimeleque, Noemi e seus filhos

Todos sendo efrateus 

Casado com Rute era Malom

Casado com Orfa, Quilom

Para bem longe dos seus

Segundo o conselho de Deus.

 


Com as mortes dos homens da casa

As mulheres desprotegidas

Voltaram a terra de Judá

Pois não havia ninguém pra ajudar

Noemi estando ainda crente

Revelou não estar contente

 


Com aquela situação

As moças não mais tinham obrigação

De presas ficarem ao seu lado

Pois, o matrimônio já haviam honrado

Disse: voltem pra sua guarida

E esperou logo a partida

 


Foi um momento de profunda dor

Os solos ouviram o clamor

Choravam em alta voz

Lágrimas que corriam veloz

Pois do peito palavras diziam

Eram ruídos que jaziam

 


Quis Rute ficar com a sogra

Para ser parte do seu povo!

Chegaram então a Belém

Para vida ter de novo

Toda cidade se comoveu

Pelo que aconteceu

 

 

Em meio a tanta amargura

Foram mulheres de bravura

Partiram para Moabe

Para que a fé não se acabe

Chegaram na saga da cevada

Algo divino às esperava

 

 

Lá havia um tal de Boaz

Homem de muitas posses 

Conheceu Rute a moabita  

Que em Deus sempre acredita

Não sabia que seria o resgatador

Enviado do nosso Senhor

 


Casou-se Rute com Boaz

E o menino Obede nasceu

E bem forte cresceu

Nos braços do restaurador da vida

Que mesmo em muitas lidas

Um bebê Deus concedeu

 


Obede gerou Jessé

Jessé gerou Davi

Um rude pastor de ovelhas

Que afrontado pelo gigante Golias

Derrotou o terrível opressor

Tornando-se Rei com louvor. 

 

 

 Por Umbelina Neves



Teoria da Enunciação



Ao Carrasco Estrutural


Silêncio! Não ouse interpelar, Ave Pícara¹ vai parolar:

– Quero estabelecer uma distinção, verter o plano do discurso, desconstruir a sentença e fazer um bacanal com a unidade formal!

...Ver queimar na inquisição o virginal enunciado, teu princípio gramático, o ato dogmático sem-número de realização... Que corroa na putrefação teu sacro enunciado junto ao tísico postulado... Estais extático? Não fiques sorumbático!

Estou a testificar, vestida de Sanbenito, gargalhando e achando bonito o instante da acusação, tortura e punição... Achei mui decorosa a tonsura do Coroza...

Que teu nobre santo ofício se precipite do edifício... Que nossa interlocução, seja a degeneração!

Art. s/n, § 0º Ordeno ao xadrez, tuas regras de estupidez... Que morram de frisson no réquiem do meu som... Que meu canto gregoriano seja o ranho do vaticano!

Minha Teoria goza de Geraldi, zomba do papa Saussure, subverte à Gerativa, pobre e triste opressiva... Quanto à metáfora do tabuleiro, exorcizo do mundo ligeiro... Que purgue no sanatório entre o doente necrosório! Quero chispar o teórico suíço para a masmorra do hospício!

...Tua hipocondríaca Fono-Lambia agoniza a Fago-Morfia, enquanto a bruxa medieval prepara-te um ritual...

Viva, pois tua Teoria
virou musa da utopia,
em meu caldeirão de orgia...

Art. s/d, § -0º Jaz a semântica estrutural na tumba do significado. E, no cemitério da consciência, dorme tua demência ao lado da Referência... Dedico um epitáfio a ti verme pancrácio...

Já perdi a noção de verdade com o antojo da bestialidade. Chamo de aberração seu ensaio objetivista, compro veste masoquista para a semântica realista.

Sinto-me tão triste com o obnóxio Benveniste, prefiro a facécia do chiste...  

Meus postulados são odes atordoados...

Ai como lamento teu quietismo sonolento, também a voz passiva de tua enunciativa, que canseira, baboseira, carniceira, é brincadeira?! Faço do teu antro, meu picadeiro malandro... Toco tambor de horror ao significado construído, pra bem te deixar oprimido...

Meu sensório-motor é apostema de interação, causando-te excitação... Culmina em câncer natural do teu laboratório experimental.


O meu verbete satírico gatura o teu linguístico, num intenso fogo sagrado que te deixa agonizado. Que eu seja desgosto eterno, a Satural do Inferno, a mundana do óvulo cúmulo que toca lira em teu túmulo (Sêman Hedionda, séc. XII)


E, segundo Bakhtin, eu sou o gênio ruim, a comunicação verbal de um banquete fenomenal. Sou a fundante do conflito que sempre te deixa aflito.

Sou dialogia, eterna polifonia...

A bacante do dialógico em teu rosnar monológico... Àquela que o discurso inverteu o percurso!

São as minhas saudações, nênias de congratulações. Espero que não deixe irritado o bandolim do teu fado...  





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1 Ave Pícara: Poder Supremo da Gozação Acadêmico-Institucional. Musa Excelentíssima incumbida do Sacro-Pacto da Galhofa, Escárnio e Contravenção.  A Sacra em seu pronunciamento zomba, perante o Tribunal, dos desmandos do Carrasco Estrutural


Por Flor dos Anjos 


METÁFORA da Merenda Escolar

              

               Bem falou ontem – 1982 – Gilberto Gil com muita propriedade, que poeta que é poeta pra falar de sua meta quer dizer o inatingível, isso para muitos é pouco visível!

            Foi tanto flagra e supervisão, um mês de investigação para o resultado divulgar aquilo que só em pensar é náusea pra vomitar! Comida estragada, de qualquer jeito armazenada, em vez de ser mui bem conservada para a fome ser saciada.  

            “Uma boa alimentação, coma frutas e legumes”, diz o recado no mural enquanto na prática tratam discentes de forma animal! Algumas Escolas Modelos de Ensino Integral passarelam feshionweekikamente sobre holofotes nos canais de Telealienação, sem falar nas tão-tão confiáveis publicações periódicas querendo que o povo VEJA notícias tendenciosas, não esquecendo a Fantástica hegemonia do Império Astro-Global, enquanto o alunado anseia por provisão, qualidade de refeição, EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO e EDUCAÇÃO!  Mas o Horário Nobre do Progresso Escolar é ver barata cirandar, enquanto nas cozinhas públicas os gatos adoram sapatear, a panela é design de decorar, o macarrão gostoso-bichado e o biscoito mofado!

            Isso é prato cheio para descer lenha na bestialização que tem enchido a gorda pança-porca dos Doutos da VIP-Administração! Estes têm lata cheia de parola enquanto a todos pensam que enrola, sobrando o pútrido alimento que qualquer um achará nojento, engulha até cabra e jumento!

           Certamente os Chefões da cainçada também devem partilhar em suas casas as mesmas carnes moídas expostas ao sol e sem refrigeração, por isso, minha Boca-de-lata só consegue pedir aos bons glutões: LATA! Pois se já saborearam esta tão boa Ração, estão de conchavo com o instinto CÃO!

            Êta boa Educação, palmas para a santa estatística e por tão magnânima logística!

          Fora! Lata infeta da mancomunação, do descaso e da corrupção! Cuspa fora sua meta cega, a disputa burra! Façam Banquete para quem precisa de Educação, respeitem o direito do cidadão, não intoxiquem o presente-futuro da Nação!

            Como concluiu Gil...

                                   Deixe a sua meta fora da disputa
                                   Meta dentro e fora, lata absoluta
                                   Deixe-a simplesmente metáfora.



Por Flor dos Anjos



O Fruto da Laranjeira



Ao Mestre Lusitano José  Pires 


São os cabelos dele...

São os fios brancos entrelaçados aos pretos, tingindo-os de uma cor grisalha, suave, penteada. Abaixo vai escorrendo a aromática barba de um mesmo tom dos fios, aquela que me causa arrepios... Nunca quis apenas idealizar, cheguei a tocar, recrear e beijar... E vejo-me acariciando-a, roçando a face, deslizando os dedos, sugando em desespero os cheiros e desejos, a fim de tomar o cálice-vinho dos teus tempos remotos, nunca ignotos.

Ele levanta enfaticamente os braços e fico a querer envolvê-lo em ardentes abraços, lambendo os favos, mordendo faceiro seu corpo por inteiro...

São dedos delicados de unhas semitransparentes, picantes, contentes, sem anel, banha-me com teu mel, cobre-me como um vel. Fico a pensar em seus braços, sua sedutora tatuagem fito-a como miragem. Sua aparente fraqueza, mística beleza da madura idade. Seu pulso envolto de uma pequena pulseira de corda fina, rústica, singela. São miçangas africanas e eu as teci, Sou sua baiana. 

Seu falar lusitano provoca um delírio profano, e causa muito mal esse gozo de Portugal. Tua nau cruza meu oceano Brasílico, minhas ondas escumam os bravios desejos dos mares recém encontrados. E a chama que há em mim é contida devido a todo aquele recinto formal, mas o calor interno ruge como um animal! E não me envergonho por te querer, eu canto o amor do nosso prazer...

Sua boca breve, pequena, de rico conhecimento, ecoa pelo auditório que aplaude as sábias palavras. Naquela conferência perdi toda a consciência me contentando em observar, mas sempre a relembrar do teu galho viril enramado em meu feitio...

Fiquei em sua mesa a fingir que concordo com tudo, que estou atenta a todos os seus falares, mas pelejo com o silêncio, fujo e sou livre em te dizer muitas coisas, mesmo que em meu pensamento. Toco explicitamente em ti, nos cantos todos, em todas as partes... Meu todo em tua parte, minhas partes em teu todo, nossos corpos a parte entre as folhagens do todo...

Não posso revelar que a rutácea estou a explorar, que em tuas águas estou a navegar! Minha bússola em teu astrolábio, ancorastes em meu lábio!

Meu desbravador, do teu terreno sou Colonizador, pego em tua euforia, causo-te agonia, canto as tuas formas, digo quais são as normas. Tu és Terra Minha, Fruto Meu, não tenho censura alguma... Que meus mapas nos una.


           De tua Laranjeira frondosa, não te consulto, roubo e chupo teu fruto, na hora que bem desejo.




Por Flor dos Anjos




Ninho Celestial




              Bem vinda meu ao meu corpo amor, nobre senhora é a hora da minha travessura, pois tua formosura vem trazer alegria ao raiar do belo dia. No café celestial sou teu mero serviçal, um banquete especial quero aprontar pra ti, oh como é bom vê-la sorrir...

            Teu sorriso angelical desperta o silêncio matinal, enquanto meu ser vagabundo quer povoar teu mundo...

            Também te tento meu bem, te atormento desde as claras horas e tu não te demoras... Arrumo a mesa, enfeito com cereja, lavo a louça, troco a roupa, trago as delícias, oferto as primícias, não esqueço as carícias...

            Aceita a fruta! Chupa a uva! Cai tua luva, rasgo a blusa, ponho o pão em tua mão, passo o queijo com tanto desejo, também neste ensejo ardente é teu beijo...

            Sou teu escravo, lambo teus favos em meio aos laços dos nossos abraços... Sou teu amante, estou festejante e o sol muito bilha em nossa Casa da Ilha...

            Boa tarde meu amor, trago-te o almoço, naquele alvoroço entre os lençóis, teus cabelos de caracóis me enredam para ti, não consigo dormir, só quero curtir, não mais despertar e teu cheiro aproveitar... Quero me cobrir em teu diadema, doce e serena, fazer-te um poema, delirar num cinema tão bem improvisado, o melhor é o inesperado! Unges-me com teu vinho, te trato com carinho por perfumar meu ninho...

            Olhas-me agradecida, quase que envaidecida por saber o quanto te desejo desde o primeiro beijo.

           Tua asa de Grande-Mulher desfaz meus compromissos, deles me faço omisso somente para contigo estar, ambicionar e amar...

            ...Rir, sentir e possuir...

            Mas, é escuro meu bem são tardes as horas, comemos amoras no silêncio do vento, enquanto ligeiro passa o tempo... Preparo o jantar, tu ficas a me olhar, me empenho para o melhor, pois somos uma carne só, organizo todo o lar pra poder te agradar, carinhar teu ventre, te fazer contente...

            Mas, o tempo passou Amor, não há como lutar agora, findou-se de vez a hora, verteu-se o momento em cinzas de lamento... o pó da maquiagem refaz tua miragem, e como está empoeirado o nosso seio sagrado! Resta apenas relembrar aquela que me fez adormecer e quase de gozo morrer...

            Ai que dor tão funda Amor que corrói todo meu viver, ora vem me proteger... Esse meu luto eterno que atravessou o inverno não pode ser socorrido... Sem ti sou indefeso passarinho, como refaço meu caminho? Oh, não podes vir, nem tampouco me ouvir? Não podes voltar? Tenho que me conformar...

            Chorarei a falta do carinho,
            Chorarei alto e sozinho,
            Chorarei triste e baixinho, embalado em nosso ninho...


Por  Umbelina Neves